sexta-feira, 31 de julho de 2009

RESPOSTA A UMA CARTA NÃO RECEBIDA


Foi uma página linda aquela que eu tive o privilégio de ler.

Aten eu sou. Serei?

Mas como gostaria eu, Aten, de estar chegando e ouvindo o chilrear dos pássaros cumprimentando alegremente a chegada de mim próprio e o meu bater, suave, à tua porta, para que olhasses os diamantes de orvalho que Nut espalhara de madrugada no teu jardim.

Oh Poesia, pertenço ao universo! Quem pode dizer que não pertence aquilo de que faz parte?

E tu? Tu és o próprio universo que se reparte. Afinal o universo contém em si tudo aquilo que nós somos. O complemento e o todo somos nós.

Importância, horas, terra de ninguém; acaso existe tempo e espaço nesse conceito abstracto e infinito?

Queres confinar num horizonte o infinito que pressinto em ti. Não, não te limites. É infinita,

Não te achas infinita assim? Queres privar-me de poder criar de ti o conceito que eu entendo seres como te penso?

Poesia, alma, poema! Apenas música composta com palavras e as palavras são letras dispersas no vento, que se apanham e se colocam, juntas, arrumadas do nosso jeito e que são o silêncio da música que compomos.

Os despojos do dia, desse dia sem dia; o tempo entre um nascer e um por do sol em qualquer universo onde o tempo existir.

Que universo o teu, se tu própria limitas o teu infinito!

Terra, terra, mais além, mais além, para onde para onde. Além de ti?

Não vês que estará sempre para além do que pensas.

Que amargura! Quem te feriu dessa maneira? Quem fez cair essas pérolas/lágrimas que brotam dos teus olhos? Beleza! Que é a beleza.

Existirá em conceito total? Se tu tens em ti toda a beleza que existe! Não vejo motivo para tal amargura.

Quanta amargura vai nessa folha de papel que deixas, voando, ser arrastada pelo vento, tão devagar que apenas em ti cabe e te faz ser, não sendo, porque tu és.

Quanta amargura existe, que oprime o espaço para o amor, que tens em ti.

Torga, Andrade, poesia, poemas, que importa se importância não tem o que não é importante.

Com tudo isso, mataste, Aten, AtenShu; mataste quem eu tinha mais bem guardado dentro de mim, o próprio Inti. Que importa quem mataste.

Um nome é um conjunto de letras, como poderia ser apenas um conjunto de números, ou simplesmente Eu. Os nomes são apenas indicativos do invólucro do nosso Eu interior.

Quem sou? Que interessa. Poderei ser quem tu quiseres que eu seja, mas serei sempre simplesmente EU, "livre e insubmisso"

Eu sou aquele que caminha/ com o vento/ e que sonhando/

cavalga/ seus próprios pensamentos

Dizer-te poemas, poesia? Se são apenas palavras dispersas, revoltas do pensamento e que juntas formam um conjunto a que chamas poesia. Eu disse-te! Qual é agora a razão de tudo isto?

Enganaste-te no endereço e a carta não recebida por mim, chegou ao destino errado? Não, é justamente o contrário. A carta foi para a direcção certa, com as palavras erradas. Disso não tenho eu culpa.

Eu nunca te disse nada do que afirmaste. Já sabes quem sou, mas para isso mataste Aten, Inti e não interessa quem mais. Para ti já não existem e agora não interessa mais. A curiosidade matou o gato.

De qualquer forma, obrigado por tão linda página.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

REMETO-ME AO SILÊNCIO


Se soubesse que a palavra que escrevi te magoava, podes crer que nunca a escreveria.
Uma coisa me deixa tranquilo; é saber que não sentes o conceito de tal palavra.
Para mim, a palavra em si não me faz diferença, é apenas um conjunto de quatro letras; três vogais e uma consoante, sendo a primeira vogal acentuada. O seu conceito sim, uma vez que não conheço tal sentimento. Lamento as pessoas que o possam entender e sentir.
Não gosto do significado de nenhuma palavra que possa exprimir um sentimento minimizador da pessoa humana naquilo que, na sua essência, deve ser exaltada.
Ninguém tem culpa de nascer como é e nós nascemos com a capacidade de adquirir conceitos que exprimem emoções e sentimentos. Devemos adquirir também a capacidade de saber separar o trigo do joio.
Disseste que, às vezes, tens pena. Eu não sei o que é ter pena de alguém. Penas têm as galinhas. O que eu sei, é que há em mim outros sentimentos com outro nome e que me fazem sentir mais fraterno, mais tolerante, mais compreensivo, eu sei lá. É um sentimento que acode de acordo com a situação de momento. Mas sempre numa intenção de ajuda.
Tento sempre vestir a pele de quem erra, para saber o que poderiam estar pensando em tal momento. Se conseguir entender a mensagem, então o meu eu interior se está sublimando e está criando defesas para erros que eu possa cometer, no futuro.
"Procede para com os outros como desejas que procedam para contigo".
Raramente me ferve o sangue, só em momentos em que a natureza destinou para que ele fervesse.
Falaste em ira, indiferença, desprezo e não colocaste mais nenhum dos outros sentimentos que se vão desenvolvendo conforme nos aproximamos da idade da razão. Dos que nomeaste, felizmente, não sofro de nenhuns.
Sou politicamente correcto, porque sigo a corrente que pretende demonstrar que o capitalismo, mais hard ou mais soft, não serve como forma de desenvolver a humanidade.
Sou estruturalmente "educado" para não chamar "filhos da outra" às sanguessugas dos povos desprotegidos que existem, sendo capaz, no entanto, de o fazer de outro modo.
Sabes porque gostaria de ser comunista, cristão, maometano, budista, xintoista ou seguidor de outra qualquer filosofia que exalte e sublime a humanidade?
Porque nelas não existe lugar para todos aqueles sentimentos que te fazem arrepiar.
Sou comunista, ou tento ser e seguidor de todas as outras filosofias, porque me fazem sentir mais perto da humanidade e de mim próprio.
Retirei a palavra que tanto te arrepiou. Peço-te; não te remetas ao silêncio, não te cales porque estás a ir contra a tua própria natureza.
Ah, desculpa se das palavras que vomitei para o papel alguns salpicos te sujaram.
Mesmo escrevendo esta ultima frase, que estava para não sair, admiro a tua franqueza e aprecio-te.

terça-feira, 7 de julho de 2009



A noite é o parque infantil da criação. É onde nascem os sonhos