segunda-feira, 13 de julho de 2009

REMETO-ME AO SILÊNCIO


Se soubesse que a palavra que escrevi te magoava, podes crer que nunca a escreveria.
Uma coisa me deixa tranquilo; é saber que não sentes o conceito de tal palavra.
Para mim, a palavra em si não me faz diferença, é apenas um conjunto de quatro letras; três vogais e uma consoante, sendo a primeira vogal acentuada. O seu conceito sim, uma vez que não conheço tal sentimento. Lamento as pessoas que o possam entender e sentir.
Não gosto do significado de nenhuma palavra que possa exprimir um sentimento minimizador da pessoa humana naquilo que, na sua essência, deve ser exaltada.
Ninguém tem culpa de nascer como é e nós nascemos com a capacidade de adquirir conceitos que exprimem emoções e sentimentos. Devemos adquirir também a capacidade de saber separar o trigo do joio.
Disseste que, às vezes, tens pena. Eu não sei o que é ter pena de alguém. Penas têm as galinhas. O que eu sei, é que há em mim outros sentimentos com outro nome e que me fazem sentir mais fraterno, mais tolerante, mais compreensivo, eu sei lá. É um sentimento que acode de acordo com a situação de momento. Mas sempre numa intenção de ajuda.
Tento sempre vestir a pele de quem erra, para saber o que poderiam estar pensando em tal momento. Se conseguir entender a mensagem, então o meu eu interior se está sublimando e está criando defesas para erros que eu possa cometer, no futuro.
"Procede para com os outros como desejas que procedam para contigo".
Raramente me ferve o sangue, só em momentos em que a natureza destinou para que ele fervesse.
Falaste em ira, indiferença, desprezo e não colocaste mais nenhum dos outros sentimentos que se vão desenvolvendo conforme nos aproximamos da idade da razão. Dos que nomeaste, felizmente, não sofro de nenhuns.
Sou politicamente correcto, porque sigo a corrente que pretende demonstrar que o capitalismo, mais hard ou mais soft, não serve como forma de desenvolver a humanidade.
Sou estruturalmente "educado" para não chamar "filhos da outra" às sanguessugas dos povos desprotegidos que existem, sendo capaz, no entanto, de o fazer de outro modo.
Sabes porque gostaria de ser comunista, cristão, maometano, budista, xintoista ou seguidor de outra qualquer filosofia que exalte e sublime a humanidade?
Porque nelas não existe lugar para todos aqueles sentimentos que te fazem arrepiar.
Sou comunista, ou tento ser e seguidor de todas as outras filosofias, porque me fazem sentir mais perto da humanidade e de mim próprio.
Retirei a palavra que tanto te arrepiou. Peço-te; não te remetas ao silêncio, não te cales porque estás a ir contra a tua própria natureza.
Ah, desculpa se das palavras que vomitei para o papel alguns salpicos te sujaram.
Mesmo escrevendo esta ultima frase, que estava para não sair, admiro a tua franqueza e aprecio-te.

5 comentários:

Maria disse...

Gostei de te ler, Jim.
Ter pena de alguém é horrível. Sei que penas têm os pássaros, e muitas vezes o digo. Substitui a palavra por dó, se quiseres, mas também não gosto de dó. Dói-me ver gente capaz de rastejar e deixar de ser gente. Ou a gente que a gente conhece. Por uma migalha, ou por nada. É isso.
Não me afirmo comunista, porque sei que ainda não sou. Sou muito imperfeita e ser-se comunista é muito difícil. Mas tento ser, todos os dias, um pouquinho "mais comunista". Sei que me entendes.

Um abraço

Akhen disse...

Achei graça ao comentário.
Substituir pena, por dó.
O termo rastejar, criou-me a imagem de uma pessoa cheia de sede, lábios gretados, arrastando-se na areia do deserto, esperando encontrar uma "gelataria" ou um quisque onde lhe servissem um cervejinha bem gelada.
Bem, mas devo dizer que em situação alguma, nenhum dos termos eu usaria em relação a alguém.
estenderia a mão e perguntava:
Precisa ajuda?
É tão fácil.

mundo azul disse...

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Gostei! Gostei muito do seu modo franco de abrir "as coisas"...


Foi um prazer conhecer a sua escrita!


Beijos de luz e o meu carinho...


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Anónimo disse...

Não te demores
A apanhar flores
Para levar,
Mas continua o teu caminho,
Pois as flores
Continuarão a florir
Ao longo do teu percurso.

Tagore

mARa disse...

Essa sinceridade me encanta!

Li e reli...

Beijo!