sexta-feira, 25 de junho de 2010

JOSÉ SARAMAGO, diria melhor do que isto



Querem colocar-me, em cinzas,
não sei onde.
Pensam assim prender-me
em qualquer lado.
Perdoo-lhes porque não sabem
que fazer de mim.
Coitados!
Mesmo morto,
do material,
de mim nada resta
nem nas cinzas eu estou.
No imaterial,
eu sempre estarei para além
de onde me colocarem.
Deste Mundo e do Outro,
eu estarei Na noite
Levantado do Chão.
Eu estarei nos Poemas Possíveis.
Eu estarei e sou o José
de Todos os Nomes
eu estarei para além
do Ano da morte de Ricardo Reis.
 O Baltasar Sete-Sóis
do Memorial do Convento
eu serei
e com ele construirei
a Passarola do Padre Bartolomeu.
Eu estarei acompanhando
o Elefante na sua viajem
e Provavelmente Alegria
estarei na Jangada de Pedra
ouvindo Jesus Cristo
ler o seu Evangelho.
Coloquem-me onde entenderem.
Façam-no e aprendam como eles
do Ensaio sobre a Cegueira.
Eu estarei sempre para além
do sítio onde me quiserem prender.


2 comentários:

Maria disse...

É um belo poema de homenagem ao José Saramago.
Obrigada, Jim.

Um abraço.

Carlos Albuquerque disse...

Sensível homenagem esta, a José Saramago, que tive o privilégio de conhecer pessoalmente.
Deixou-nos um Homem de Humanidade imensa. Ficou a sua obra imortal. A ele me referi também no meu blogue.
Um abraço